Os presidentes dos dois municípios da ilha Terceira, nos Açores, disseram hoje que estão já a ser trabalhados licenciamentos para retomar as touradas à corda na sexta-feira, último dia permitido pelo regulamento, após o levantamento das restrições da covid-19.
"Na Praia da Vitória, havia um único pedido [de licenciamento]. Já estão a diligenciar estas autorizações. Tudo indica que irá realizar-se", adiantou, em declarações à Lusa, Vânia Ferreira, que toma posse como presidente do município da Praia da Vitória, na sexta-feira.
Em Angra do Heroísmo, poderá ser a própria autarquia a avançar com a organização dos eventos tauromáquicos. Segundo o presidente do município, Álamo Meneses, a câmara recebeu este ano "uma vintena de pedidos" de licenciamento, mas para datas que já caducaram.
"Nesta altura, estão a ser contactados os requerentes a saber se querem transferir a tourada para sexta-feira", revelou. O município tinha já contratualizado com os ganadeiros 19 touradas (uma por cada freguesia do concelho) e algumas poderão realizar-se ainda nesta época taurina. "Se não houver promotores particulares, serão sorteadas três [touradas] para a sexta-feira", revelou Álamo Meneses.
Existem touradas à corda em várias ilhas dos Açores, mas é na Terceira que têm maior expressão. Habitualmente, entre 01 de maio e 15 de outubro, são organizadas na ilha mais de duas centenas de manifestações taurinas, que ao contrário das touradas de praça, se realizam nas ruas, em percursos limitados por riscos e encerrados ao trânsito. Os touros são amarrados por uma corda, segurada por pastores, e a população assiste, de forma gratuita, na rua ou nas janelas e varandas. Sem controlo de participantes possível, as touradas à corda estavam suspensas desde o início da pandemia de covid-19.
Na terça-feira, o secretário regional da Saúde e Desporto, Clélio Meneses, anunciou, em comunicado de imprensa, que estavam reunidas as condições epidemiológicas para que as manifestações taurinas fossem retomadas.
"Passam a não existir critérios que limitem a realização de touradas à corda, desde que verificadas as regras de comportamento social, no respeitante ao uso de máscara", afirmou. A decisão surge numa altura em que a Terceira tem 82% da população com vacinação completa e "85% de população com contacto com uma toma da vacina". "Apenas se verificam seis infetados, dois internamentos e que desde julho não se verificam óbitos nesta ilha", acrescentou o titular da pasta da Saúde.
A Associação Regional de Criadores de Tourada à Corda vai tentar interceder junto dos grupos parlamentares para que o Parlamento açoriano aprove o prolongamento da época taurina por mais um mês (até dia 15 de novembro), mas para já são permitidas touradas à corda apenas até sexta-feira.
A autarca eleita da Praia da Vitória admitiu que havia uma "alguma pressão" da sociedade para que os eventos fossem retomados, mas lamentou o tempo curto para a preparação das touradas.
"Esta decisão é tomada a três dias do fecho da época taurina, o que deixa alguns constrangimentos. Não se pode dar uma tourada por freguesia, não vamos conseguir satisfazer as vontades de todos, até em termos de ganadarias. Tem de haver algum respeito e ponderação", afirmou.
Vânia Ferreira apelou a que haja "calma e algum respeito pelas vontades mútuas" e que as pessoas colaborem para que seja "uma manifestação controlada". Ainda assim, disse que "não poderia estar contra" uma vontade que há muito era manifestada pela população. "Quando se vê que vão surgindo aqui alguns eventos e que já vão existindo alguns aglomerados e que ninguém ponderava a autorização para as touradas, mostrava-se aqui já alguma revolta por parte da população", apontou.
Também o autarca de Angra do Heroísmo disse que serão realizados "os eventos possíveis", tendo em conta que "o prazo é muito curto".
"Havia uma pressão enorme no sentido da retoma. Havia um conjunto de pedidos, que infelizmente já estão caducados. Agora estamos a reavaliar esta situação e vamos ver o que é possível fazer, já que só há dois dias para se organizarem as coisas", explicou. Álamo Meneses considerou, no entanto, que a retoma das touradas à corda dá um "sinal de esperança e de retorno à normalidade", não só à tauromaquia como à atividade económica em geral.
"Este era um dos setores de atividade da ilha que ainda não tinha sido possível retomar. Vem dar um sinal em relação a todos os outros de que vamos a caminho da normalidade plena", frisou.